Sexta-Feira, 5 De Dezembro : Santo Agostinho


«Deus refulgiu, o nosso Deus vem e não Se calará» (Sl 50,3). Com efeito, Cristo, o nosso Deus, o Filho de Deus, chegou de forma encoberta na sua primeira vinda; e virá de forma manifesta na segunda. Quando veio encoberto, só foi conhecido pelos seus servos; quando vier manifestamente, será conhecido pelos bons e pelos maus. Quando veio encoberto, foi para ser julgado; quando vier manifestamente, será para ser o juiz. Outrora foi julgado e calou-Se, e o profeta predissera esse silêncio: «Maltratado, humilhou-se voluntariamente e não abriu a boca; como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda ante aqueles que a tosquiam, ele não abriu a boca» (Is 53,7); mas «Deus refulgiu, o nosso Deus vem e não Se calará». [...] Agora, também os maus usufruem daquilo a que chamam felicidade neste mundo; e os bons sofrem aquilo a que chamam infelicidade neste mundo. Se os homens só creem nas realidades presentes e não acreditam nas realidades futuras, é porque observam que os bens e os males deste mundo pertencem indistintamente aos bons e aos maus. Se ambicionam riquezas, veem que elas pertencem tanto aos homens piores como aos bons. Se têm horror à pobreza e às misérias desta vida, veem que estas não fazem sofrer só os maus, mas também os bons, e dizem para si mesmos: «O Senhor não vê» (Sl 94,7), Ele não gere os assuntos humanos, Ele deixa-nos caminhar ao acaso para o abismo profundo deste mundo e não nos mostra a sua providência. E, se desprezam os preceitos de Deus, é porque não veem o seu juízo manifestar-se. [...] Deus reserva muitas coisas para o juízo futuro, mas algumas delas são julgadas agora, para que aqueles cujo julgamento tarda se encham de receio e se convertam. Pois Deus não gosta de condenar, mas de salvar, e por isso é paciente com os maus, para que eles se tornem bons.