Irmãos, vós conheceis Aquele que vem; considerai agora de onde vem e para onde vai: vem do coração de Deus Pai para o seio de uma Virgem Mãe; vem das alturas do céu para as regiões inferiores da terra. E nós, não temos de viver nesta terra? Sim, se Ele próprio aqui viver também; porque onde estaríamos nós sem Ele? «Quem mais tenho eu no céu? Na terra só desejo estar contigo. [...] Deus será sempre o meu refúgio e a minha herança» (Sl 73,25-26). [...]
Mas era necessário que estivesse em causa um grande interesse para que tal majestade Se dignasse descer de tão longe para uma estadia tão indigna de Si. Sim, havia um grande interesse em jogo, porque a misericórdia, a bondade e a caridade se manifestaram com grande abundância. Com efeito, porque veio Jesus Cristo? [...] As suas palavras e as suas obras demonstram-no-lo claramente: Ele desceu a toda a pressa das montanhas para procurar a centésima ovelha, a que estava perdida, para estender a sua misericórdia aos filhos dos homens. Ele veio por nós.
Admirável condescendência do Deus que procura! Admirável dignidade do homem assim procurado! O homem pode vangloriar-se disso sem toleima: por si mesmo nada é, mas é-o porque Aquele que o fez o tem em tão grande estima! Em comparação com esta glória, as riquezas e a glória do mundo, e tudo o que se pode aí ambicionar, nada são. O que é o homem, Senhor, para que o engrandeças assim e a ele ligues o teu coração?
Cabe-nos a nós caminhar em direção a Jesus Cristo. [...] Mas um duplo obstáculo nos entravava: os nossos olhos estavam muito doentes e Deus habita numa luz inacessível (cf 1Tim 6,16). Paralíticos que jazíamos no catre, éramos incapazes de alcançar a altíssima morada de Deus. Foi por isso que o Salvador, o doce médico das almas, desceu de lá do alto, onde mora, suavizando o brilho da sua luz para que os nossos olhos doentes pudessem vê-lo.