Evangelho (Jo 6,60-69) - Naquela época, muitos dos que até então seguiam Jesus diziam: “Esta linguagem é dura. Quem pode ouvir isso? Mas Jesus, sabendo no seu coração que os seus discípulos murmuravam sobre isto, disse-lhes: «Isso vos escandaliza? E quando vocês verão o Filho do homem subir onde estava antes? O espírito é aquilo que dá vida; a carne é inútil. As palavras que falei para você são espírito e são vida. Mas há alguns entre vocês que não acreditam. Porque Jesus sabia desde o início quem eram aqueles que não acreditavam e quem o trairia. E ele: “É por isso que eu te disse que ninguém pode vir a mim, a menos que o Pai lhe conceda”. Desde então, muitos dos seus discípulos voltaram e não andaram mais com Ele. Jesus disse então aos Doze: “Vocês também querem ir embora?” Simão Pedro respondeu-lhe: «Senhor, para quem iremos? Você tem palavras de vida eterna e nós acreditamos e sabemos que você é o Santo de Deus.
O comentário ao Evangelho de Monsenhor Vincenzo Paglia
A passagem evangélica deste domingo encerra o “discurso sobre o pão”, proferido por Jesus na sinagoga de Cafarnaum. Ali, na presença de Jesus, acontecia o que aconteceu ao povo de Israel quando chegou a Siquém, coração da terra prometida e sede de um santuário nacional ligado às memórias dos patriarcas. Josué reuniu todas as tribos e pediu-lhes: “Escolha hoje a quem servir”, se aos ídolos pagãos ou ao Deus da libertação da escravidão do Egito. E o povo respondeu: «Longe de nós abandonar o Senhor para servir outros deuses! Pois foi o Senhor nosso Deus quem tirou a nós e a nossos pais da terra do Egito”. Foi uma escolha decisiva para Israel, que estava prestes a tomar posse da terra que lhe foi dada por Deus. O mesmo não aconteceu com aqueles discípulos de Jesus. Nem todos tinham compreendido que aquela "carne" era "espírito", que aquela o homem falava a linguagem do céu, que vinha de Deus e conduzia a Deus. “A partir daquele momento muitos dos seus discípulos voltaram atrás e já não o acompanhavam”, nota o evangelista com amargura. Para Jesus o anúncio daquela intimidade era o Evangelho. Ele não podia desistir. Depois dirigiu-se aos Doze (é a primeira vez que este termo aparece no quarto Evangelho) e perguntou-lhes: “Quereis ir também?”. Talvez não percebamos plenamente o drama deste momento; é sem dúvida uma das mais graves da vida de Jesus. Pedro fala em nome de todos e diz: «Senhor, para quem iremos? Você tem palavras de vida eterna." Não diz “onde”, mas sim “para quem” iremos. Pedro sublinha aquela relação íntima com Jesus que especifica a fé do discípulo, aliás, toda a sua vida. Para eles, Jesus é um ponto de referência sem comparação; ele é superior a qualquer outro mestre; só ele tem palavras de vida eterna.