XXVIII do tempo comum
M Mons. Vincenzo Paglia
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Evangelho (Mc 10,17-30) - Naquele momento, enquanto Jesus caminhava pelo caminho, um homem correu ao seu encontro e, ajoelhando-se diante dele, perguntou-lhe: “Bom Mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?”. Jesus lhe disse: «Por que me chamas de bom? Ninguém é bom, exceto somente Deus. Você conhece os mandamentos: “Não mate, não cometa adultério, não roube, não dê falso testemunho, não defraude, honre seu pai e sua mãe”. Ele então lhe disse: “Mestre, tenho observado todas essas coisas desde a minha juventude”. Então Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: «Só te falta uma coisa: vai, vende o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; E venha! Me siga!". Mas com essas palavras seu rosto escureceu e ele foi embora triste; na verdade, ele possuía muitos bens. Jesus, olhando em volta, disse aos seus discípulos: “Quão difícil é para quem possui riquezas entrar no reino de Deus!”. Os discípulos ficaram desconcertados com as suas palavras; mas Jesus continuou e disse-lhes: «Filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus.” Eles, ainda mais surpresos, disseram uns aos outros: “E quem pode ser salvo?”. Mas Jesus, olhando-os de frente, disse: «Impossível para os homens, mas não para Deus! Porque tudo é possível com Deus." Pedro começou então a dizer-lhe: “Eis que deixamos tudo e te seguimos”. Jesus respondeu-lhe: “Em verdade te digo que não há ninguém que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, que já não receba agora, em desta vez, cem vezes mais em lares, irmãos e irmãs, mães, filhos e campos, junto com perseguições e vida eterna no tempo por vir.”

O comentário ao Evangelho de Monsenhor Vincenzo Paglia

«Bom Mestre, o que devo fazer para ter a vida eterna?». A pergunta que ressoa no Evangelho de hoje é decisiva. E o homem que se aproxima de Jesus para interrogá-lo representa uma humanidade que tem no coração uma séria interrogação sobre a vida, que em última análise sente que nunca está satisfeita, que não encontrou uma resposta à pergunta sobre o sentido da sua própria existência. Jesus acha aquele homem sincero, tanto que o Evangelho relata o seu olhar cheio de amor dirigido àquele homem: “Então Jesus, olhando para ele, amou-o”. Parece haver todas as condições para aquele cara se tornar um de seus discípulos. Jesus se emociona e sonha grandes coisas para ele. E a palavra de Jesus, o Evangelho, é uma palavra que vem do seu olhar cheio de amor para com todos. Quando você olha o mundo com tristeza, resignação, desconfiança, você não comunica amor. E o amor é verdadeiramente assim quando pede escolhas concretas e exigentes. A palavra de Jesus pedia àquele homem que cortasse as riquezas da sua vida, que fizesse uma escolha de coração. Mas no final ele foi embora “entristecido”. Por quê? Ele não tinha fé nas palavras de Jesus: «Só te falta uma coisa: vai, vende o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então venha e siga-me." O rico vai embora triste: tinha muitos bens e neles depositava sua segurança e salvação. É também a história da nossa geração imersa num mundo materialista e numa mentalidade marcada pela crise, em que tudo se tornou economia. Jesus denuncia o poder do dinheiro; o apego às riquezas pode apoderar-se do coração do homem até privá-lo da alegria. Também nós percebemos como o medo de perder riquezas nos deixa tristes e ansiosos, nos faz perder o sentido de solidariedade e nos faz considerar cada sacrifício pelo bem comum uma renúncia impossível. A primeira riqueza da qual devemos nos libertar é o sentimento de autossuficiência, a ideia arraigada de poder fazer as coisas sozinhos e de não precisar dos outros. Aqueles que pensam assim acreditam, no final, que podem prescindir até mesmo de Deus: "Quem pode ser salvo?" é a profunda questão da salvação e do futuro que surge do nosso tempo, à qual Jesus continua a responder e à qual somos chamados a responder com a nossa fé. O Evangelho diz-nos que o coração humano tem necessidades mais profundas do que as coisas materiais, nas quais muitas vezes procuramos refúgio das nossas ansiedades (o homem não vive só de pão!). Jesus pede-nos que coloquemos Deus acima de tudo e consideremos os pobres como nossos irmãos, aos quais devemos amor e ajuda. Assim se realiza o milagre do “camelo que passa pelo fundo de uma agulha”, quando no coração se escolhe não mais viver defendido, mas acreditar no Evangelho e deixar todo o resto para trás, para encontrá-lo multiplicado “cem vezes tanto" do amor de Deus.